sábado, 16 de dezembro de 2023

And in the end...

Em 1990 eu era um garoto de 13 anos que basicamente só ouvia Beatles.

Lembro que anos antes, quando estava começando a descobrir a música e ficava fuçando nos discos e fitas dos meus pais, uma vez vi uma fita cassete escrito "Beatles" na caixinha, com a letra da minha mãe. Antes mesmo de colocar pra tocar perguntei pra ela se não estava errado, devia ser "Beatriz", não? E fui ouvir as fitas. Tinha fitas com músicas dos Beatles e músicas da carreira solo do John Lennon (conheci o Double Fantasy numa fitinha dessas).

Alguns anos depois, com a chegada dos CDs ao Brasil, minha tia começou a refazer a coleção de discos dela com CDs e eu herdei vários vinis dela, inclusive alguns dos Beatles. Me lembro de ter o With The Beatles, "Os Reis do Iê Iê Iê", Beatles For Sale e Help!. No encarte de um deles, se não me engano o Help!, tinha uma capa interna mostrando a coleção de discos dos Beatles lançados no Brasil e eu lia e relia aquele encarte, mostrando as capas dos discos e os nomes das músicas e ficava imaginando como cada uma soaria.

Nessa época, como eu disse, eu só escutava Beatles. Ouvia em casa, cantava no recreio do colégio com meus amigos, aprendi a tocar teclado e violão com o livro The Beatles Complete que ganhei do meu pai. Respirava Beatles...

Na rádio "RPC FM" tinha um programa chamado "Beatles Classic Rock" que passava todo dia de manhã, durante a semana, exatamente no horário que eu acordava pra me arrumar pra ir pra escola. Então à noite eu já deixava uma fita preparada no mini system, e assim que tocava o despertador eu pulava da cama, ligava o rádio e colocava o programa pra gravar. Ia tomar café da manhã, colocava o uniforme e saía pro colégio mas já deixava combinado com a minha mãe, "daqui a meia hora você entra no meu quarto, vira a fita e põe pra gravar a segunda metade do programa". E assim que voltava da aula ia escutar o programa e marcava naquele encarte do Help! as músicas novas que conheci naquele dia. Assim eu fui "completando o álbum" e conhecendo as músicas. Algumas vezes ligava pra rádio pra participar de alguma promoção (nunca ganhei nenhuma) e batia um papo rápido com o locutor. Pra participar da promoção tinha que ligar e dizer o nome da música que ele tinha colocado pra tocar, me lembro que uma vez consegui ligar e não sabia qual era a música, era uma das que eu não conhecia, chutei que era "Being For The Benefit Of Mr. Kite!" e acertei!!! Mas não ganhei 😂

Aos poucos fui comprando os outros discos (em vinil ou em cassete, eu ainda não tinha CD) e acabei conhecendo todos e sabendo todas as músicas de cor, os detalhes, a ordem das músicas nos discos, tudo. "Full beatlemaníaco".

Em 1989 o Paul McCartney lançou o disco Flowers In The Dirt, depois de alguns anos sem lançar nada. Foi o primeiro disco solo dele que comprei, ouvi muito, levei pra aula de piano pra professora me ensinar a tocar "My Brave Face"... Tenho um carinho especial por esse disco até hoje.

Então no auge da minha beatlemania chegou a notícia de que Paul McCartney faria suas primeiras apresentações no Brasil, na turnê de divulgação do Flowers In The Dirt, mais precisamente aqui no Rio de Janeiro, no Maracanã. Claro que fiquei louco pra ir e pedi muito pros meus pais. Então meu pai comprou ingressos para toda a família e fomos nós 4 na segunda noite. Me lembro bem que foi na segunda noite porque todos os jornais estavam cobrindo o evento, e no Globo veio uma página com as letras das músicas, ou algum tipo de programa do show, não me lembro bem. Eu tinha separado aquela página pra mim mas algum amigo ou amiga de alguém pediu emprestado pra levar no show na primeira noite, caiu uma chuva torrencial e eu nunca mais vi meu recorte de jornal.

Esse show foi uma experiência incrível! Eu já tinha ido a alguns shows antes com meus pais, de artistas nacionais e em lugares bem menores (o do RPM no Canecão provavelmente foi o primeiro). Mas ter a oportunidade única de ver um dos meus ídolos tocar ao vivo, "na minha frente", era quase um sonho.

Passei semanas pensando no show, me preparando, mas a experiência do show mesmo foi inigualável. Eu conhecia e cantava todas as músicas, para espanto dos meus pais que viveram a beatlemania "in loco" mas talvez não tão fervorosamente quanto eu naqueles poucos anos desde que comecei a curtir a banda. Não ficamos em um lugar bom, pegamos uma arquibancada lateral com uma visão parcial do palco (então não consegui nem ver o baterista "voando" que era um dos pontos altos do show) mas pouco me importava, eu estava na presença dele. Hoje me lembro desse show mais como uma experiência única do que em detalhes. Mas me lembro bem de ter entrado num tipo de transe durante o solo estendido no meio de "Sgt. Pepper's Lovely Hearts Club Band", comecei a viajar naquele som... ou talvez fosse a erva que estavam fumando por ali fazendo efeito no meu cérebro de 13 anos (meu pai até hoje conta do cara ao lado oferecendo "um tapinha" pra ele).

Esse foi o meu PRIMEIRO GRANDE SHOW INTERNACIONAL, e não poderia ter começado de maneira melhor.

Somente 20 anos depois, em 2010, tive a oportunidade de ver outro show ao vivo do Paul, dessa vez viajei para São Paulo, já casado e acompanhado da Fernanda, para as 2 noites que ele faria no Morumbi. Desembolsei uma grana e comprei ingressos pra pista VIP pra primeira noite - na segunda fomos de arquibancada mesmo, pra descansarmos um pouco e não detonar o cartão de crédito de uma vez. Esse show da pista VIP foi a melhor experiência em shows que eu já tive, e nessa época já tinha ido a muitos mais shows, de vários artistas que amo, mas estava muito mais perto daquele que sempre foi um dos meus maiores ídolos.

Depois disso vi novamente em 2011 no Engenhão, 2013 no Mineirão em BH e 2014 no então HSBC Arena. Foram 6 show dele até aqui.

Hoje vou vê-lo pela 7a vez, e dessa vez acho que vai ser mais especial ainda. Ele já não é nenhum jovenzinho, já está com seus 81 anos. A voz não é mais a mesma, o pique no palco também não, apesar de ainda encarar um show de quase 3h de duração quase sem parar. Há rumores de que possa anunciar sua aposentadoria dos palcos depois desse show, ou em breve, então essa pode inclusive ser a última oportunidade de ver esse show em terras brasileiras.

Mas mais do que isso, da mesma forma que meu pai fez lá em 1990, hoje estou levando o Gabriel para presenciar o seu PRIMEIRO GRANDE SHOW INTERNACIONAL. Vamos ver o Paul McCartney. Juntos. No Maracanã.

E assim o círculo se fecha...

"And in the end the love you take is equal to the love you make."






Não se esqueça de visitar o blog de fotos pra ver minhas fotos com o Gabriel!